A medicalização da vida

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O que eu denomino de Medicalização da Vida ou de Medicalização do Cotidiano se refere ao fato das pessoas usarem a medicação psiquiátrica de forma errônea, ou seja, elas não apresentam um quadro clínico psiquiátrico, mas mesmo assim, se utilizam da medicação para não sentirem tristeza, ansiedade e angústia.

Em nossa época, é comum as pessoas se incomodarem quando ficam mais de duas semanas tristes recorrendo a antidepressivos para melhorarem a sua disposição. Aguardar a tristeza “passar” respeitando o seu ritmo parece fora de cogitação para o homem moderno.

Vamos pensar: se algo externo aconteceu desencadeando a tristeza é natural e esperado que ela se instale e permaneça o tempo necessário. Do mesmo modo que se algo externo aconteceu desencadeando a alegria é natural e esperado que ela se instale e permaneça o tempo necessário.

O homem moderno apresenta, portanto, a tendência de “se livrar” dos afetos, principalmente daqueles que consideramos “negativos”.  O que significa que estabelecemos que a disposição, o ânimo e a alegria devem ser constantes e nos acompanhar na maioria das vezes.

Veja: é um engano considerar que podemos controlar os afetos. Não podemos. Eles possuem uma função e sua manifestação mostra a nossa característica humana: somos um mosaico afetivo e reagimos ao que nos acontece, interna e externamente, de forma afetiva.

Então, amenizá-los, negá-los, fugir deles, negligenciá-los, além de pouco inteligente, resultará no empobrecimento das vivências, na superficialidade dos contatos, no adoecimento e na solidão.

A Medicalização do Cotidiano também se refere à tendência em solucionar as dificuldades emocionais, os desajustes e os comportamentos socialmente inadequados com o diagnóstico psiquiátrico e com o tratamento medicamentoso.

É como se nos livrássemos da responsabilidade de reconhecer as causas das dificuldades e a nossa implicação para colocar nas “mãos milagrosas” da medicação a resolução do problema. Ora, ora, ora, muitas das dificuldades humanas (em crianças, adolescentes, adultos e idosos) fazem parte do desenvolvimento, da conquista da autonomia e da busca pela maturidade emocional.

O homem moderno precisa ser mais criterioso.

O homem moderno deve permanecer atento para não utilizar a o avanço da medicina no sentido de embotar as suas vivências e prejudicar a beleza da existência: poder sentir intensamente o que a Vida nos traz.

Confira também o vídeo que fala sobre a medicalização do cotidiano:

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