Depressão
DEPRESSÃO
Eu sempre quis escrever sobre a alma da Depressão. Porque, desse modo, eu falaria o essencial.
E o essencial é tudo o que precisa ser dito sobre alguma coisa, não é mesmo?
A Depressão é uma doença do humor. É através de um estado de humor, a tristeza, que ela se manifesta. E vem muito mal acompanhada: traz o desânimo e a desesperança.
E as três se unem para criar uma condição difícil de ser superada: a perda da vontade de continuar vivendo.
A Depressão se constitui na retração da energia vital. A pessoa nessa condição vai perdendo o interesse pelas coisas, por si mesma, pelos prazeres da vida. E começa a se desligar, a se isolar, perdendo a motivação.
E na retração da energia, a Depressão tira da pessoa a sua capacidade de reagir e ela caminha para a inércia, para o desinteresse, para a ausência. Dá para imaginar tal circunstância?
Na Depressão, a pessoa se ausenta da vida. Até morrer.
Sabe o que a desesperança faz com a pessoa nessa condição? Faz com que acredite que não há solução para o que está sentindo. Que não será capaz de reagir, que não irá melhorar. Que não há solução, em vida.
Se a esperança é a última que morre, na Depressão, ela não está.
Já no desânimo mais desanimador, a pessoa se depara com a inutilidade das próprias atitudes. Nenhuma ação produz efeito, nenhum comportamento apresenta resultado, nada que fale ou deixe de dizer faz diferença. Não faz diferença.
Das três, talvez a mais perturbadora seja a tristeza.
Ela vem da perda real ou imaginada de alguém ou de alguma coisa, muito amada.
E a pessoa que perdeu sente que o objeto amado levou consigo todas as condições de vida.
Então, a Depressão é uma doença que vem da tristeza da perda de um amor. Real ou imaginado, como já falei.
E que vai progredindo até a pessoa considerar a morte uma saída, a única maneira de colocar fim ao desgosto de viver na ausência do objeto amado.
Então, chega um momento, na Depressão, que a pessoa precisa escolher se continua vivendo. Ela quer seguir com a vida?
Se quiser, precisa reagir. Precisa criar um novo Sentido para prosseguir. Algumas pessoas decidem que sim, outras, que não.
O medicamento, o antidepressivo, ajuda muito. Ele devolve o ânimo, e a pessoa volta a fazer as coisas de antes. O que traz a sensação de que a cura é possível, de que a esperança ainda não se perdeu, de vez.
O medicamento também causa um leve bem-estar e, muitas pessoas, com a ajuda da medicação, decidem reagir e escolhem buscar outro Sentido para a vida. É preciso muita atenção aqui.
Não é o medicamento que cura, é a pessoa que usando o medicamento decidiu continuar. E, se a pessoa não se lembra do instante da escolha, ele aconteceu de forma inconsciente.
Outro tanto de pessoas, quando melhoram porque se medicaram, adquirem as condições para colocar em prática o seu plano suicida. E conseguem o seu intento.
Por isso, a Depressão, é uma doença que obriga a pessoa a decidir se pretende continuar sem a referência amorosa. Por que quando se ama alguém, atribuímos o sentido da vida à ligação que construímos. E, com a perda, estaremos sozinhos e diante do impasse: continuar ou não?
Quando alguém morre de Depressão, morreu de amor. Pela perda do amor. E quando alguém supera a Depressão significa que, apesar do amor perdido, a vida segue.