TOC – caso clínico “A cegueira”

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Em relação aos Casos de TOC, geralmente, os relatos causam estranheza, perplexidade e compaixão deixando a incômoda sensação de que algo escapa à compreensão.

O relato que apresentarei possui todos esses ingredientes.

Acompanhe: um adolescente decidiu que não queria mais ver o mundo com os próprios olhos. Isso mesmo: ele mantinha os olhos abertos dentro de casa, porém, ao sair, fechava os olhos porque não queria ver o mundo através dos olhos.

Ele ia às aulas de olhos fechados, alguém o levava. Em classe, permanecia de olhos fechados, ouvindo os professores; os amigos, solidários e prestativos, ficavam ao seu lado no intervalo e emprestavam seus cadernos para que copiasse a matéria (em casa).

O jovem fez psicoterapia, de olhos fechados, no consultório da psicóloga, e de olhos abertos, quando era atendido em casa.

E aconteceu de numa das suas incursões, um barulho forte o assustar e ele quase abriu os olhos. O rapaz então decidiu que iria provocar a própria cegueira para não correr o risco de ver o mundo com os olhos.

E, para a perplexidade de todos, tentou se cegar, fracassando no seu intento. E avisou os pais que continuaria tentando até que atingisse o seu objetivo.

A partir do acontecido a vida da família passou a existir exclusivamente para a patologia do adolescente: ele não tomava banho sozinho, não havia tranca nas portas, não havia objetos perfurantes na casa, não haveria descanso nem relaxamento, nunca mais.

O rapaz expunha com clareza o seu argumento: “o meu contato com o mundo deve acontecer através de todos os sentidos, exceto a visão. É assim que me sinto bem”.

A lógica da patologia. Tão diferente da lógica comum, da grande maioria.

E o mistério se deu por completo: não era a lógica da patologia, era a lógica do nosso adolescente. Uma espécie de escolha, uma alternativa pouco provável, mas uma alternativa ao alcance de todos os que enxergam com os olhos.

Os pais do jovem buscaram Grupos de Apoio, psicoterapia, se apegaram ao possível e ao impossível. E viviam confusos e esperançosos na perplexidade. E não compreendiam, não sabiam explicar, não explicavam.

E perceberam que a única saída seria continuar fazendo o que sempre fizeram: a sua parte, o melhor.

E quanto aos resultados? Esses não dependiam deles.

Os pais do nosso jovem viveram o extremo da vulnerabilidade que acompanha toda mãe e todo pai: o limite diante da autonomia dos filhos.

E seguiram, dia após dia, pensando: “só por hoje”.

Acompanhe: a perplexidade existente nesse Caso trazia muito sofrimento, mas o adolescente também considerava o mistério: “eu não sei explicar, mas fico bem num mundo em que não preciso dos olhos”.

Assista também ao vídeo:

 

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