A PAIXÃO

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Sonhei
que uma mulher
corria nua –
no mais completo desvario –
por um vale.
 
Sei também
que sacudia – e muito –
a cabeleira ruiva
enquanto o seu corpo
avançava veloz.
 
De manhã – de sobressalto –
estava com os olhos
voltados para dentro
e
com a mulher
alojada
no peito.
 
Tormentas e abismo –
e apenas a sensação
dos cabelos roçando
os meus pulmões.
O ar diminuía
e ela –
gloriosa em fúria e
dor –
se fazia mais,
muito mais,
o risco total.
 
Trazia a morte nos
movimentos e o prazer
nos ossos.
 
Tormentas e abismos –
e ela permanecia perene, esfuziante.
E eu não podia contar as horas.
 
Como agora escrevo –
jamais saberei –
é que sou poeta e
se nos é dada a
possibilidade da entrega,
também uma única fresta
nos concederam –
talvez
eu
consiga voltar.
 
 

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