A medicalização do cotidiano e a Infância
As crianças dão trabalho porque são crianças.
E tem sido cada vez mais frequente a situação em que pais e mães buscam um especialista para diagnosticar e tratar seus filhos porque não sabem lidar com eles.
Uma criança agitada, inquieta, e que não se adapta exatamente às regras da escola e da sociedade como esperamos, por exemplo, seria considerada uma criança hiperativa, com déficits no desenvolvimento necessitando de assistência.
Ora, precisamos de muita calma e discernimento nessa hora.
Há diversas considerações sobre esse assunto.
Em primeiro lugar, a personalidade da criança e do adolescente está em formação, sendo construída até que se complete dezoito anos: o que significa dizer que se trata de uma personalidade em aberto.
E a prática clinica mostra, em inúmeros casos, que durante esse longo percurso, diversos problemas serão resolvidos naturalmente em decorrência da aquisição dos recursos necessários para a formação da autonomia. Dessa forma, seria precipitado e prejudicial interferir de modo artificial na tentativa de solucionar o “problema”.
O recomendável é observar a criança, num prazo razoável, estando ao seu lado para o acompanhamento, o apoio e pequenas intervenções. Cada criança e adolescente, por exemplo, possui um ritmo próprio na constituição da autonomia, alguns são mais rápidos e outros mais lentos, sem que rapidez e lentidão signifique necessariamente deficiência.
A criança precisa ser considerada na sua singularidade e ninguém melhor do que a mãe e o pai para a realização dessa tarefa. Porém, é preciso conviver, observar, estar presente e se comprometer. Não é uma boa estratégia delegar para especialistas ou terceirizar o tratamento das questões importantes que envolvem a vida dos filhos.
Em relação ao diagnóstico de crianças propriamente dito, todo o cuidado do mundo será necessário em decorrência do estigma, do rótulo, da padronização e, mais uma vez, do desenvolvimento em aberto.
A medicação também merece especial atenção. Eu a considero necessária se, diante do quadro clínico apresentado, os efeitos resultarem numa condição melhor do que a anterior. Assim: se o resultado possibilitar menos sofrimento e melhor ajustamento.
O profissional (ou profissionais) juntamente com os pais deverão dialogar, refletir, ponderar, e considerar o bem-estar da criança como o critério fundamental. Por mais que seja difícil, muitas vezes.
E, mesmo que a tecnologia avance mais e mais, existe algo que não muda: a importância do amor e da presença dos pais na formação da personalidade dos seus filhos.
É isso.
Confira também o vídeo com mais informações sobre o assunto: