TDI

TDI – Transtorno Dissociativo de Identidade

O Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI) é atualmente considerado um transtorno de stress pós-traumático (TEPT), o que significa que NOVENTA E CINCO POR CENTO das pessoas que apresentam a patologia SOFRERAM MAUS TRATOS ou VIOLÊNCIA SEXUAL na infância.
E, por consequência do trauma que se instala na alma/mente da vítima, a pessoa cria DIVERSAS PERSONALIDADES na tentativa de negar, esquecer ou elaborar o ocorrido.
Evidentemente que junto ao abuso/maus tratos existirão outras variáveis para a construção do trauma: AUSÊNCIA DE FIGURA AMOROSA ESTÁVEL e CONFIAVEL, a presença de determinados mecanismos de defesa na configuração mental, experiências tranquilizadoras e restauradoras não disponíveis com as pessoas que cuidam.
E para que, muito tempo depois, o trauma se manifeste produzindo a dissociação deverá ocorrer um gatilho, ou seja, um evento que coloque a pessoa diante das dificuldades geradas pela vivência traumatizante.
E então ocorre a dissociação, que se refere à ruptura do ego produzindo alter-egos: o ego se constitui na personalidade matriz, aquela que sempre esteve presente, e os alter-egos formam outras personalidades que ambicionam alcançar a consciência e lá permanecer.

Cada alter-ego surge em decorrência da vivência traumática e a ela está relacionada. No caso da HELENA, por exemplo, a Helena-criança existe num tempo em que a violência sexual não aconteceu. Eis a função do alter-ego criança: dar vida à Helena não traumatizada.
E não se trata de encenação ou disfarce, a Helena-criança vive num tempo anterior ao acontecido e tudo nela manifesta a ausência da não-violência. Fantástico, não?
E desse modo cada alter-ego é construído, pois correspondem a reações específicas à vivência traumatizante. E cada um deles possui características da personalidade construída: a Helena-criança possui voz de criança, gestos de criança, postura corporal de criança, pensamento de criança, afetividade de criança, interesses de criança.
Impressionante: os alter-egos podem apresentar lateralidades distintas, diferenças ópticas e diferenças significativas na atividade elétrica cerebral. E, em muitos casos, dez, quinze, vinte e cinco, cinquenta alter-egos.
Mais do que impressionante: o que se constata diante do fenômeno da dissociação psíquica é que o pensamento altera o soma, ou seja, o pensamento altera o corpo.
Pois bem, se um alter-ego alcança a consciência, a sua intencionalidade é permanecer existindo no contato com o mundo externo. O que significa que os demais não terão essa oportunidade e, portanto, haverá um conflito instalado que, no seu extremo, promoverá a desintegração do ego, ou seja, a impossibilidade da existência no contato com o mundo externo.
No conto, a Helena-louca representa a desintegração absoluta: o caminho sem volta da loucura. Se esse alter-ego comandasse a personalidade, Helena seria internada materializando a impossibilidade da vida compartilhada, ou seja, normal.
Os alter-egos podem também proteger uns aos outros formando determinados grupos que possuem afinidades. É como se eles se comunicassem e compartilhassem intenções, formulando estratégias e alianças. No caso da Helena não acontece, a ruptura egóica se faz de modo tão acelerado que não sobra tempo para essa articulação.
Outra característica do transtorno: elucidar aspectos inconscientes do funcionamento mental em estreita relação com os aspectos conscientes, assim, cada alter-ego que alcança a consciência pode manifestar intenções desconhecidas do conjunto do funcionamento mental.
Por isso, a psicoterapia é o tratamento indicado para esses casos. O que importa é trazer à consciência as causas do conflito que produz a ruptura egóica: eis o único caminho possível para reverter o processo da desintegração: a clareza das intenções permite o reconhecimento das causas, a contextualização das condições e a compreensão do sofrimento.
O tratamento psicoterápico costuma ser de longa duração (anos), no entanto, no caso da Helena, o que ocorreu foi que o seu processo aconteceu em sete sessões (dois meses), na modalidade clínica conhecida como Plantão Psicológico.

O gatilho, nesse caso, foi o encontro com o amor verdadeiro: quando conhece Daniel e se apaixona sendo correspondida, Helena não sabe o que fazer porque não possui o registro do amor em sua alma.
A moça sucumbe e, imersa no desespero, decide desintegrar para não matá-lo: no alter-ego Ninfomaníaca reside toda a agressividade letal para com os homens: usada por eles, decide capturá-los e destruí-los.
Pois é justamente no contato com a ninfomaníaca que a plantonista expõe o conflito entre o Amor e a Morte: Mariana traduz em palavras a batalha que conduzirá Helena à autodestruição.
Entre os alter-egos existe também a Vítima, a Helena conformada com a não-saída e a Fetal, aquela que ainda nem nasceu, protegida pelo marido e existindo através dele.
No conto, a matriz é denominada de Helena-normal, a que sempre existiu e se vê ameaçada pelas demais possibilidades da mesma existência. Essa Helena se constitui na referência para a corajosa estagiária compreender a movimentação do processo psicoterápico.
E o espetáculo está construído: a dissociação mental de uma pessoa, que à beira da loucura, encontra auxílio, numa clínica escola, através da disposição da única estagiária capaz de ajudá-la.

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